De acordo com dados divulgados pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) no início de fevereiro, o Brasil alcançou a marca de 92% de energia gerada a partir de fontes renováveis em 2022. Foram cerca de 62 mil megawatts médios por mês.
Durante o período, usinas hidrelétricas, eólicas, solares e de biomassa forneceram o maior volume de energia dos últimos dez anos ao Sistema Interligado Nacional (SIN).
A entidade atribuiu os bons resultados, entre outros motivos, a uma melhora significativa no cenário climático no relativo às chuvas – o que contribuiu não apenas para a recuperação no nível dos reservatórios como também para a expansão de usinas eólicas e solares.
Com o cenário hídrico favorecido, houve um aumento de 17,1% na produção das hidrelétricas, uma média de 48 mil MW. Em 2022, a energia produzida pelas usinas respondeu por 73,6% do total gerado.
Entre os estados em que foi observado um maior crescimento na produção hídrica, estão Minas Gerais (1.178 MW médio), Pará (599 MW médio), Santa Catarina (545 MW médio) e Alagoas (484 MW médio).
Bons resultados
Outra fonte que apresentou números expressivos foi a energia solar centralizada. Isso porque houve um aumento de 64,3% em relação a 2021. Ao todo, foram produzidos mais de 1,4 mil MW médios.
Segundo a CCEE, a chegada de 88 novas fazendas solares ao SIN contribuiu para que o segmento alcançasse 4% de representatividade na matriz nacional.
A energia eólica também apresentou crescimento de 12,6% e adicionou aproximadamente 9 mil MW médios ao sistema, correspondentes a 14,6% do total gerado. O País conta hoje com 891 parques eólicos, que, somados, chegam a 25 mil MW de capacidade instalada.
Entre os estados que apresentaram maior crescimento de geração eólica, estão Bahia (666 MW médio), Rio Grande do Norte (178 MW médio) e Piauí (340 MW médio).
A energia produzida a partir de biomassa registrou em 2022 um leve aumento de 0,3%, entregando ao sistema aproximadamente 3 mil MW médios no período. O País conta com 321 usinas desse tipo, com capacidade total instalada de 14.927 MW.
Os números alcançados no ano passado confirmam o destaque do Brasil como potência no campo da energia limpa e renovável e podem auxiliar a alavancar investimentos na área, seguindo a tendência mundial. Em 2021, o Brasil já contava com 84% de sua matriz energética em fontes renováveis, contra 28% da média mundial.
Contudo, o sistema energético brasileiro ainda faz uso das chamadas fontes não renováveis. O total em 2022 foi de 5.373 MW médio. Deste total, a fonte térmica a gás registrou 45,0% (2.419 MW médio); seguida de fonte nuclear, com 28,3% (1.522 MW médio); carvão mineral, com 12,8% (690 MW médio); e as demais fontes (térmica, GNL, óleo, gás/óleo, importação e reação exotérmica), com 13,8% (743 MW médio).
Tendência global
Com o avanço das pautas climáticas, as grandes potências mundiais concentram esforços na busca pela ampliação do uso de energia de fontes renováveis e na redução de resíduos.
Grande parte dessas nações localizadas na Europa depende hoje de fontes não renováveis, como carvão e petróleo. O conflito entre Rússia e Ucrânia pode acelerar esse processo, uma vez que as sanções entre os países europeus envolvem também gasodutos russos.
Na COP 27, promovida pela ONU e realizada no Egito em 2022, países da União Europeia chegaram a um acordo para promover a eliminação gradual dos combustíveis fósseis antes do próximo encontro, na COP 28. O compromisso, no entanto, é de reduzir e não acabar com uso do carvão, por exemplo.
Abaixo, explicamos um pouco mais sobre as atuais fontes renováveis disponíveis, sua importância e riscos.
Fontes renováveis de energia
Energia renovável é aquela obtida por meio de recursos que se regeneram ou que são permanente ativos, isto é, vem de fontes que, com a intervenção adequada, não se esgotam.
Atualmente, as mais conhecidas e difundidas são a hídrica, solar e eólica. Com o avanço constante da tecnologia, já é possível a utilização de recursos como as marés ou o calor da terra como fontes geradoras.
Energia solar
A energia solar é obtida por meio do aproveitamento da radiação emitida sobre a Terra. Trata-se de uma fonte extremamente potente, na maior parte do globo, e que conta com sistemas de instalação relativamente simples.
No Brasil, um país com clima tropical e com alta incidência solar na maior parte do ano, esse tipo de energia vem ampliando cada vez mais sua participação no mercado. Hoje é possível encontrar esse tipo de instalação em indústrias, hotéis, comércios de diversos portes e também residências.
Os sistemas de instalação têm, em média, 25 anos de vida útil. A substituição dos equipamentos, no entanto, pode gerar resíduos. Os agentes do mercado fotovoltaico vêm trabalhando ativamente em soluções para o descarte correto e o reaproveitamento dos materiais.
A expectativa é de que a capacidade global de energia solar chegue a 2,3 TW de geração até 2025.
Energia eólica
A energia eólica é produzida por meio da energia cinética do vento (massas de ar em movimento) e do aquecimento eletromagnético do sol. Essa energia é captada através de torres com hélices chamadas pás captadoras e que movem as turbinas e acionam os geradores.
O Brasil também é destaque na captação e utilização desse tipo de energia, em especial nas regiões Norte e Nordeste. Os estados com maior geração atualmente são Rio Grande do Norte, Bahia, Ceará e Piauí.
Há atualmente no País planos de investimento em energia eólica offshore, isto é, produzida com a força dos ventos em alto mar. A expectativa do setor é de que o Brasil alcance a marca de 160 GW de capacidade instalada até 2030.
Energia hídrica
A energia hídrica faz uso da força das águas doces para transformar o potencial em energia cinética que é, posteriormente, transformada em energia elétrica no interior das usinas.
As usinas hidrelétricas permanecem como principal fonte geradora da matriz energética brasileira e como a terceira no cenário global.
Apesar de se tratar de um sistema de energia limpa e renovável, há questões ambientais complexas relacionadas ao sistema. Isso porque, para que uma usina seja construída, é necessário represar águas e desocupar grandes áreas, impactando nos ecossistemas locais e na vida das populações do entorno.
Outra desvantagem do sistema é a dependência de fatores climáticos, como períodos de estiagem. A falta de chuvas causa baixa nos reservatórios e impacta diretamente na capacidade de produção de energia por essa fonte.
O Brasil tem hoje três das maiores usinas hidrelétricas do mundo: Itaipu Binacional, Tucuruí e Belo Monte.
Energia da biomassa
A energia de biomassa é produzida através da queima de resíduos de materiais orgânicos, de origem vegetal ou animal.
No Brasil, essa fonte utiliza principalmente o bagaço de cana, rejeito da produção de açúcar e derivados e do etanol, mas também se faz uso de rejeitos de cultivos agrícolas, agropecuários e vegetais lenhosos.
A geração acumulada pelo setor foi de 238.105 GWh nos últimos 15 anos.
Energia biotérmica
A produção desse tipo de energia utiliza o calor interno da Terra. Para isso, é necessário captá-lo em pontos específicos, onde há incidência de temperatura elevada do solo.
O sistema funciona através de grandes perfurações no solo, injetando água e captando os vapores que acionam geradores de eletricidade.
Este tipo de fonte, no entanto, gera impacto ambiental a ser considerado, uma vez que pode haver a emissão de poluentes e poluição química do solo. Os custos de implantação e manutenção também são considerados bastante elevados.
Atualmente não há utilização dessa fonte no Brasil.
Energia das ondas e marés
O potencial dos oceanos para geração e armazenamento de energia está no radar do setor de energia. Alguns dos países com pesquisas na área, além do Brasil, são Estados Unidos, França e Portugal. Este último já tem em operação um protótipo na Ilha do Pico, nos Açores.
Essa energia é produzida através da captação da energia cinética produzida pelo movimento de vai e vem das ondas e das marés.
Apesar de ser uma fonte com enorme potencial, os custos com equipamentos necessários à implantação ainda são bastante elevados. Além disso, a energia produzida só pode ser utilizada por cidades no entorno da usina.
O sistema também gera consideráveis impactos no ecossistema marinho nas áreas em que as usinas são implantadas. As rotas de navios podem ser afetadas, uma vez que a interferência nas ondas e marés pode provocar alterações e imprevistos nas rotas de navios comerciais e privados
Fonte: https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2023-02/brasil-bate-recorde-em-geracao-de-energia-renovavel